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O beija-flor tomando água na boca do pesquisador Augusto Ruschi virou estátua | Foto: Marcelo Prest
Turismo

Um ‘beijo’ do homem e colibri na Serra do Navio vira atração turística

Cleber Barbosa, da Redação

Um dos nomes mais respeitados do mundo científico em seu tempo, tinha estreita relação com o Amapá, palco de muitas de suas pesquisas. Trata-se do agrônomo, ecologista e naturalista brasileiro Augusto Ruschi, que teve essa história com a Serra do Navio imortalizada numa emblemática estátua sua a partir de uma foto capturada quando um beija-flor tomava água diretamente na boca do pesquisador, numa espécie de ‘beijo” que representa muito bem sua relação com a natureza.
O município de Serra do Navio possui vários títulos para que se destaque entre os principais destinos turísticos do interior do Amapá: “Cidade Alta”, “Terra do Manganês”, “Serrinha”, e por aí vai. Mas existe uma outra atração por lá que responde pelo nome científico de “Topazza Pella”, ou, para os mais íntimos, “Brilho de Fogo”. Trata-se do maior beija-flor que existe em todo o planeta e que é muito difícil de ser encontrado. Além de adornar a bandeira oficial do lugar, a pequena ave pode incrementar o turismo científico e o ecoturismo por lá.
Essas descobertas foram feitas por uma lenda entre os ambientalistas do Brasil e do mundo: Augusto Ruschi, que a convite do empresário Augusto Trajano de Azevedo Antunes – fundador da mineradora Icomi – realizou por anos, pesquisas em solo amapaense. Os estudos e constatações feitas por Ruschi ainda hoje são valiosas fontes de pesquisas para os cientistas.

Publicação
A edição nº 25 da revista Icomi Notícias, de 1966, trouxe como manchete de capa “Uma beleza rebelde no céu do Amapá”, um registro sobre a passagem do cientista Augusto Ruschi (conhecido no mundo inteiro pelas contribuições no campo da zoologia, especialmente na ornitologia) e suas pesquisas sobre o raro beija-flor brilho-de-fogo (Topaza pella). Segundo o texto, os registros oficiais referentes ao avistamento da espécie eram de 1959, em lugares de difícil acesso na Venezuela. “O cientista passou 25 dias em Serra do Navio, conseguindo coletar quatro casais e outros de espécies diferenciadas. Realizou conferência ambiental com estudantes e organizou uma exposição na Vila Amazonas, em Santana. Pontos importantes para a ornitologia no país”, diz trecho da reportagem.
Segundo o Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos, o Brilho de Fogo ocorre também na Venezuela, das Guianas ao leste do Equador, Roraima, Amapá, Maranhão e Pará, às proximidades do rio trombetas. O fato é que Serra do Navio abraçou o pequeno pássaro e aposta no turismo interno.

Mais que beija-flor, uma ave exótica e ‘nervosa’

É o maior beija-flor do Brasil. Dimorfismo sexual acentuado. Macho mede 20 cm, com mais da metade do comprimento correspondente à cauda; garganta dourada ou verde metálica, barriga vermelha metálica contrastando com os calções níveos e os pés cor de carne clara, capuz negro , partes superiores carmesim, cauda longa ferrugínea com retrizes que se cruzam medialmente; bico curvo e preto. Fêmea mede 12 cm, sem retrizes prolongadas. Verde-amarronzada com garganta vermelha metálica, parte inferior das asas e lados da cauda extensamente ferrugíneas como macho. Alimenta-se principalmente de carboidratos, conseguido através do néctar das flores, mas come também pequenos artrópodes, que são capturados em pleno voo.
Na época do acasalamento, durante as cerimônias pré-nupciais o macho adeja diante da fêmea (pousada), entreabrindo e fechando a cauda, “tesourando” com as retrizes alongadas ou ainda expandindo a cauda em leque; com o eriçar e o acalmar das penas a placa gular passa do verde para o dourado cintilante ou para o negro opaco, como uma luz que acendesse e apagasse. Seu ninho é uma tigela sólida e rasa feita de paina de gravatá, fiapos de xaxim, etc.

No ano de seu centenário, Augusto Ruschi ganha mais um título honorífico

Augusto Ruschi completaria 100 anos em 2015, tanto que recebeu, em memória, o título de Doutor Honoris Causa da Ufes, a Universidade Federal do Espírito Santo, durante um dia de celebração no Museu de Biologia Professor Mello Leitão, fundado por Ruschi, em 1949, em Santa Teresa. A Estação Biologia Marinha Augusto Ruschi, também fundada pelo naturalista, promoveu uma observação de beija-flores, durante todo o dia, em Aracruz. Augusto Ruschi nasceu em Santa Teresa, município da região Noroeste do Espírito Santo, em 12 de dezembro de 1915, e começou a estudar a natureza aos 14 anos. Ele é, até hoje, o principal autor de obras científicas sobre beija-flores do país. Ruschi classificou 80% das espécies brasileiras de colibris, catalogou mais de 600 espécies de orquídeas, além de identificar 50 novas espécies.
Ruschi se formou em Agronomia, em 1940, e em direito, em 1950. Ele publicou mais de 500 trabalhos científicos e escreveu 22 livros. Aos 22 anos já era professor na UFRJ. Seu trabalho foi importante para a criação de várias reservas ambientais no Brasil e no mundo, com um capítulo importante sendo registrado em pesquisas feitas no Amapá.

A morte

Em 1985, já fragilizado por várias malárias e esquistossomose que contraiu durante as pesquisas de campo, tornou-se ainda mais frágil como efeito da hepatite C que o acometia. Mal podia caminhar, desenvolveu uma hérnia ao fazer um pequeno esforço, e o antigo envenenamento pelos sapos também cobrava tributo de sua saúde. No dia 23 de janeiro de 1986 reuniu-se com índios no Parque da Cidade, no Rio de Janeiro, para um ritual de purificação e cura dirigido pelo cacique Raoni e o pajé Sapaim, após diversos tratamentos médicos convencionais. A pajelança durou três dias e virou manchete em rádios e jornais de todo o país durante uma semana, sendo noticiada também no exterior. Após o tratamento os indígenas o deram como curado, e de fato o paciente sentira-se bem desde o primeiro dia, cessando as hemorragias, as tonturas e as dores.
Mas as melhoras foram efêmeras e seu estado continuou piorando. Depois de ser internado em uma clínica em Linhares, apresentando outra vez vômitos e tontura, sendo acometido ali por uma isquemia cerebral, da qual se recuperou sem sequelas, no dia 24 de maio foi transferido para o Hospital São José, em Vitória, por complicações gastroenterológicas. Morreu no dia 3 de junho de 1986. A causa mortis foi Insuficiência hepática causada por uma cirrose, agravada por hemorragias e falência das funções renais. Segundo o médico que o tratou, a cirrose derivou de uma intoxicação por excesso de remédios contra a malária, e não, como foi divulgado, do contato com os sapos venenosos. Seus órgãos foram doados ao Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Espírito Santo para pesquisas médicas. Ele foi velado na Câmara Municipal de Santa Teresa por parentes e amigos. Poucas pessoas compareceram ao velório. (Fonte: Willis de Faria).

CURIOSIDADES

– Augusto Ruschi teve a efígie retratada até no dinheiro do Brasil, as notas de R$ 500 (cruzados novos), que circularam no país entre 1990 e 1994;
– O Beija-flor-brilho-de-fogo é uma ave da ordem dos Apodiformes, da família Trochilidae. O Beija-flor-brilho-de-fogo é conhecido também como Topázio-vermelho. É o maior e um dos mais bonitos beija-flores do Brasil.

20 cm

UM RETRATO

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