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General Viana Filho fala sobre a missão do Exército Brasileiro na proteção à Amazônia Oriental | Foto: EB
Amapá

“Amazônia ainda é cobiçada”, diz general da nova Brigada no Amapá

Reportagem: Cleber Barbosa

O Amapá passou a partir deste ano a ter um novo personagem na sociedade local, um general do Exército Brasileiro, coisa que por aqui só se viu quando este pedaço de Brasil foi declarado Território Federal, com a descoberta de jazidas de um minério estratégico para o esforço de guerra, o manganês, na década de 1950. Mas, o militar escalado para implantar a 22ª Brigada de Infantaria de Selva, general Luiz Gonzaga Viana Filho, é um homem afeito ao diálogo, de voz serena e tom conciliatório. Entretanto, ele não hesita em reafirmar que a cobiça estrangeira sobre a Amazônia ainda existe, é algo real, atual e factível.
Passou a ser uma rotina a realização de grandes operações e manobras militares na região das fronteiras do Brasil com a Guiana Francesa, no Rio Oiapoque, e com o Suriname. Em verdadeiras operações de guerra, com tropas desembarcando por terra, água e ar no Oiapoque, o Exército Brasileiro coordena as ações de homens e de mulheres de farda rajada, trabalhando em cooperação com várias agências federais como Ibama, Receita Federal, ICMBio, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e também com órgãos estaduais de fiscalização e com forças de segurança pública do estado do Amapá.

Fronteiras

O general Viana Filho explica que embora duas leis federais garantam poder de polícia na faixa de fronteira, é importante a participação das forças auxiliares. “As ações em conjunto se mostram mais efetivas e, por conseguinte, mais eficazes, pois aproveitam o potencial de todos e assim diminuem as vulnerabilidades, com a atuação desses entes, diz. Desde a criação do Ministério da Defesa, essa interoperabilidade tem sido observada, uma forma de atuar conjuntamente inclusive com troca de dados.

Exército terá 3 mil integrantes no Amapá no auge da 22ª Brigada

A grande pergunta que se faz hoje é sobre a tão falada cobiça internacional sobre a Amazônia. Segundo a reportagem apurou junto ao comando da 22ª Brigada de Infantaria de Selva, esse interesse estrangeiro ainda existe, mas não como os livros de história contavam no passado, ou seja, ocupar por ocupar, fazer colônias, lucrar com o ouro alheio. Para o general Viana Filho a cobiça é permanente, mas pelos recursos naturais que o Brasil possui. “Não falamos hoje de invasão ou outras formas de domínio, mas temos dados concretos sobre a ação velada de agentes estrangeiros em nossas florestas, seja em supostas missões, em determinadas ONGs que influenciam indígenas ou em empresas multinacionais, explorando recursos naturais de forma ilegal.

Em virtude dessas ameaças, entende-se a importância da presença do Exército em nossas fronteiras, principalmente no chamado Arco Fronteiriço compreendido pelo Suriname, Guiana e Guiana Francesa.

Efetivo

Resultado direto desse planejamento estratégico do Alto Comando do Exército Brasileiro, o Amapá recebeu a 22ª Brigada de Infantaria de Selva. Grande Unidade da Força Terrestre composta por uma série de outras unidades, chamadas no jargão militar de OM (Organizações Militares). A sede da 22ª Brigada é em Macapá e reúne os efetivos de três batalhões, o 34º BIS, também sediado na capital amapaense, o 2º BIS localizado em Belém e o 24º BIS com sede em São Luís. “No contexto do planejamento estratégico do Exército para a Amazônia Brasileira foi criado em 2013 o Comando Militar do Norte a partir da divisão do Comando Militar da Amazônia, facilitando a coordenação militar ao agrupar regiões da Amazônia com as mesmas características”, explica o comandante.
As obras de implantação da Brigada estão em andamento. Já foram entregues o Pavilhão de Comando, a Companhia de Comando da Brigada e até alguns PNR’s (Próprios Nacionais Residenciais). Quando estiver totalmente implantada, o efetivo total lotado no Amapá saltará dos atuais 1200 militares para algo próximo a 3 mil profissionais, distribuídos em unidades de comunicações, logística, cavalaria, artilharia, engenharia e outros. Hoje, além de Macapá, há integrantes da Brigada da Foz em Belém-PA, São Luís-MA, Clevelândia do Norte no Oiapoque (AP), em Vila Brasil (AP) e também em Tiriós (PA).

Posição

A criação do Comando Militar do Norte e a implantação da Brigada da Foz do Amazonas no Amapá caracteriza a importância estratégica da Amazônia Oriental para o Exército Brasileiro, porta de entrada para toda Amazônia e fronteira com a Europa. A criação da 22ª Brigada de Selva tem como finalidade aumentar a capacidade operacional e melhorar o gerenciamento administrativo do Exército Brasileiro na Amazônia, além de articular o esforço da presença militar na região e guarnecer a área de fronteira da Amazônia Oriental.

Fronteiras

Indagado sobre em qual contexto internacional dos delitos transfronteiriços o Amapá está inserido, o general Viana Filho diz que embora existam outras faixas de fronteira com problemas muito mais complexos, como na tríplice fronteira entre o Peru, a Bolívia e a Colômbia, há sim informações de que a rota internacional do tráfico de drogas, armas e até de pessoas, possa ter pontos de apoio em território amapaense. “Existem estados brasileiros que são fronteiriços com os países maiores produtores de drogas de mundo e que possuem rios, como o Rio Solimões, que podem ser utilizados para transportar drogas e armas para os grandes centros consumidores do país e para o exterior, entretanto algumas dessas rotas de tráfico internacional de armas e drogas passam na região do Foz do Amazonas, trazendo reflexos para o Amapá”

Soldados

A cobiça do estrangeiro pela Amazônia ainda enfrenta a emblemática presença do “guerreiro de selva”, como é chamado o militar do Exército que serve na Amazônia. Segundo o coronel Alexandre Mendonça, ex-comandante do 34º e responsável pelas primeiras obras da 22ª Brigada no Amapá, esse é o melhor combatente em ambiente de mata do mundo. Para se ter uma ideia desse diferencial, militares de diversos países concorrem a limitadíssimas vagas no Curso de Operações na Selva, promovido pelo Centro de Instrução de Guerra na Selva, o temido CIGS, em Manaus. “Mas o que o Brasil disponibiliza em termos de conhecimento é algo bem generalista, pois tem coisas que só trabalhamos com os nossos soldados”, diz ele. O Coronel Alexandre diz ainda que o contingente de soldados que anualmente são recrutados na Amazônia, são de nativos dessas cidades pelo interior, portanto gente acostumada com a vida na floresta, então o que se passa são conhecimentos da doutrina militar e de conhecimento específico, pois no dia a dia esses homens e mulheres sabem muito bem como lidar com a floresta.

Forças

Uma importante observação é feita por especialistas em ciências militares, é que o fato do Amapá fazer fronteira com a França, país integrante da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Essa organização é uma aliança militar intergovernamental baseada no Tratado do Atlântico Norte, que foi assinado em 4 de abril de 1949 e tem como um de seus objetivos a defesa mútua de seus membros em caso de uma agressão externa.
Em Caiena, na Guiana Francesa, o espaço aéreo é aberto para aeronaves que pertençam à OTAN, pois lá existe uma Base Aérea com a finalidade de proteger o território francês e em particular o Centro Espacial de Kourou, instalação estratégica que possui investimentos da Rússia e de diversos países.

 

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