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O crítico francês de gastronomia, Jean-Pierre Coffe (*1938 † 2016) esteve no Amapá em 2011 | Foto: AFP
Entrevista

“Tive contato com jambu, tucupi, achei os pratos regionais interessantes”

Nota da Redação:

Nessas idas e vindas do jornalismo, quando as vidas de milhares de pessoas passam pelo cotidiano da nossa cobertura midiática, a grande maioria sai de cena sem que nos percebamos, como o francês Jean-Pierre Coffe, que somente agora soubemos que já está no andar de cima. Estávamos organizando postagem sobre personalidades que já vieram ao Amapá conhecer exemplos de produção orgânica de alimentos, quando encontramos em nossos arquivos a entrevista exclusiva que ele nos concedeu em Macapá. A notícia tem que ser inédita e recente, diz o protocolo, mas a memória do jornalismo é algo que passa a ser factual quando uma boa história grita por ser recontada.

O editor.

O jornalista Cleber Barbosa e o artista francês Jean-Pierre Coffe

Uma das personalidades mais populares no mundo da televisão e do rádio na França, o irreverente Jean-Pierre Coffe, visitou o Amapá após uma longa viagem de Paris a Macapá em que mergulhou no mundo da produção sustentável de palmitos de açaí. Defensor da alimentação saudável, sem agrotóxicos, Jean-Pierre conheceu todos os detalhes do processo, desde a colheita, o transporte, a comercialização em regime de cooperativismo dos caboclos ribeirinhos, até o cuidadoso processo industrial que tem garantido ao palmito amazônico grandes inserções na gastronomia internacional, especialmente na Europa. O francês recebeu o jornalista Cleber Barbosa no restaurante Sapucaia, do Ceta Ecotel, onde esteve hospedado, quando concedeu uma entrevista exclusiva que o Blog publica a seguir.

Cleber Barbosa, da Redação

Blog do Cleber – O que motivou sua vinda ao Brasil agora, especialmente para conhecer o Amapá?
Jean-Pierre Coffe – Vim ao Brasil encarregado por um grande grupo de distribuição francês para encontrar produtos em conserva de qualidade, sendo orgânico ou de qualquer modo sustentável, daí vir ao Amapá ver a produção de palmito de açaizeiro que é industrializado aqui.

Blog – E sobre o contato que o senhor teve com a gastronomia brasileira, especialmente a do norte do Brasil, quais suas primeiras impressões?
Jean-Pierre – Eu cheguei aqui na quinta-feira, portanto há pouco tempo, daí ter tido pouco contato com a gastronomia brasileira, mas aqui no norte tive muito prazer em conhecer os peixes locais, observar a maneira com que eles são cozidos, mas também tive contato com o jambu, o tucupi, enfim achei os pratos regionais muito interessantes, muito agradáveis mesmo. Comi com muito prazer.

Blog – O Brasil tenta se consolidar como destino turístico internacional também apostando na sua gastronomia, o senhor acha esse um viés importante para o setor, daí ser explorado do ponto de vista econômico?
Jean-Pierre – Turismo implica-se também em alguma cultura e nesse sentido temos sim a gastronomia, então se não se colocasse a gastronomia brasileira para os turistas que estão vindo seria um erro, pois as pessoas quando vêm estão sempre à procura de uma coisa diferenciada, entre elas a gastronomia, certamente.

Blog – A capital da França é o maior destino turístico mundial, então o que mudou na rotina dos franceses depois de apostar no turismo, que historicamente tiveram que aprender a lidar e receber bem quem os visita?
Jean-Pierre – O fluxo maior de turistas na França, e em Paris em particular, é de extremos orientais, chineses hoje e japoneses, mas a influência maior da cozinha fora da França é da cozinha italiana, mas a cozinha oriental está tendo uma penetração muito grande na França também. Quanto à cozinha brasileira a gente não vê em Paris ainda com uma influência muito presente.

Blog – Então há uma tendência histórica de abertura, não é mesmo?
Jean-Pierre – Posso dizer que está havendo certa invasão de cozinhas estrangeiras comuns, populares, os McDonald’s da vida, o que não é o que eu gosto. Eu gostaria de ver um grande restaurante brasileiro em Paris, com aquilo que vocês de melhor a oferecer.

Blog – O seu trabalho como crítico de gastronomia na França é feito com muito bom humor, isso chama a atenção, apesar de seus compatriotas terem a fama de não ser bem-humorados, isso é verdade?
Jean-Pierre – O meu bom humor não é incompatível com a seriedade do trabalho, por exemplo, as perguntas que você fez até agora foram sérias e eu respondi de maneira séria… (risos) Mas sobre o que vi aqui, com o trabalho dos brasileiros, achei muito sério, da indústria, das pessoas que vi, funcionários, caboclos comprometidos com o trabalho, digno de entusiasmo.

Blog – Por falar em humor, qual a influência que teve seu avô, que na época da guerra teve a ousadia de xingar um soldado alemão durante a invasão à França?
Jean-Pierre – Fico espantado de você saber disso tudo! Como conseguiu?

Blog – Coisas da internet…
Jean-Pierre – Muito bem… (mais risos)

Blog – Mas e como foi para o senhor fazer esta viagem tão longa de Paris até o Amapá, atravessar o Atlântico e saber que aqui o Brasil mantém com a Guiana Francesa a maior fronteira que seu país possui com qualquer outro país do mundo?
Jean-Pierre – Eu não conheço a gastronomia de Caiena, apenas a de Guadalupe e da Martinica, mas posso dizer que a gastronomia brasileira é bem superior a estas duas, certamente.

Blog – Muito obrigado pela entrevista.
Jean-Pierre – Eu é que agradeço, pois isso prova que aqui no Amapá também existem bons jornalistas. Obrigado por pesquisar tantas coisas a meu respeito.

Perfil…

Entrevistado. Francês Jean-Pierre Coffe é um famoso apresentador de rádio e roteirista de televisão, cozinheiro e ator nascido em 24 de março de 1938 em Luneville, Meurthe-et-Moselle . Ele é conhecido pela defesa, com virulência, da autêntica cozinha e produtos locais. Ele praticamente não conheceu o pai, que foi para a guerra em 1937 e morreu em combate em 1940. Há registros de que seu avô, que era jardineiro, cometeu a ousadia de chamar um soldado alemão de porco, durante a invasão nazista, fato que pode ter influenciado a Jean-Pierre a ser irreverente desde cedo, pois já aos 13 anos encantou-se pelo teatro. Ele também sempre apreciou uma boa cozinha, chegando a pesar 120 quilos aos 18 anos.

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