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Neste post veja como eles estimulam a criatividade no dia a dia e deixam a inspiração fluir | Foto: Pond5
Cultura

Escritores revelam suas principais formas de estimular a criatividade

Alexandre Boure

Neste artigo, você vai encontrar dicas valiosas de 21 escritores que conquistaram um espaço significativo na literatura brasileira nos últimos anos. Vamos ver se você concorda comigo: muitas vezes temos uma ótima ideia na cabeça, mas quando sentamos para escrever, parece que a inspiração para transformar aquela ideia em obra literária simplesmente não dá as caras. A boa notícia é que há diversas maneiras de contornar este problema.

Veja como eles estimulam a criatividade no dia a dia e deixam a inspiração fluir para dentro de seus livros.

1 ) Ana Paula Maia

1- Pesquisar tudo o que me interessa. 2- Selecionar a melhor ideia e desenvolvê-la 3 – Ler e assistir a filmes

2 ) André de Leones

Creio que as coisas que mais estimulam a minha criatividade são a observação, as leituras e o contato com outras pessoas. Ou seja, tudo se resume à vivência e o que ela envolve, desde caminhar pela cidade onde vivo até viajar para outros lugares, aqui e lá convivendo com outras pessoas, ouvindo, prestando atenção etc. E, claro, a leitura, o cinema, a música, isto é, as artes em geral também são gatilhos. Sobretudo a leitura. Em suma, seja por meio das experiências, seja por meia das artes, é uma questão de estar sempre à disposição do outro e do que ele tem a dizer e mostrar.

3 ) Carol Rodrigues

Tenho três ações muito básicas que funcionam pelo menos pra manter uma continuidade, o que eu já considero um milagre:

1 – perguntar por que escrevo, todo dia ou quase, não conseguir responder e escrever até que se minimize a angústia; escrever mesmo quando a pergunta não vem.

2 – andar entre o controle e o risco, errar bastante os cálculos dessas medidas, errar por dentro delas.

3 – olhar pros erros; escolher um deles pra amar e bancar, pelo menos por um tempo.

4 ) Eduardo Spohr

Em primeiro lugar, acho que todo artista deve manter suas antenas ligadas. Todos os aspectos da vida, assim como as pessoas, os lugares por onde você passa e até os nossos conflitos e conquistas, são fontes inesgotáveis de inspiração. Também creio ser importante, no caso específico de um escritor, escrever sempre, todo o dia; nunca perder o contato com a escrita — especialmente quando estiver trabalhando em um texto, em um conto, romance, novela, roteiro, etc. Finalmente, ao desenvolver um projeto em especial, é necessário correr atrás de referências. A pesquisa é um dos maiores combustíveis para a criatividade. Você vai pesquisando e descobrindo coisas incríveis. O difícil é, justamente, saber a hora de parar.

5 ) Edyr Augusto

O escritor é um observador por excelência. Vai amontoando essas observações até começar a escrever um livro e escolher os personagens. Quanto ao enredo, penso nele por bons meses. Nada escrevo. A partir da escolha, as observações vão montando o que deve ser escrito. Cada livro meu foi escrito de uma maneira, uma provocação, um horário fixo. Como elaboro com calma, quando chega o momento de escrever, tudo transcorre bem rápido. Deixo os personagens me levarem. Raramente sei como terminará. No último, “Pssica”, escrevi um capítulo por dia. Pensava sobre o que havia escrito e o que viria a seguir. No dia seguinte, revisava e partia para o novo capítulo. De qualquer maneira, há um gatilho que não identifico, porque pode ser qualquer estímulo, para que inicie a escrita do que venho pensando há tempos. E durante esse tempo de escrever, que é breve, sou a pessoa mais feliz do mundo.

6 ) Henrique Rodrigues

A principal para o meu caso hoje é encontrar o tempo para a leitura e escrita. Trabalho muito, sou casado e com filhos, de modo que a vida ordinária está sempre querendo ocupar todo o tempo. Há 10 ou 15 anos, claro esse item não existiria… A leitura de bons livros de prosa e poesia ajuda a estimular a cuca para a escrita. Tem gente que não liga pra isso pra não sofrer influência, mas não é o meu caso. Mais importante que a escrita é a reescrita, onde se passa uma peneira no que foi feito. É nessa etapa que devemos ter frieza com o texto, tratá-lo como massa de pão, bater, e muitas vezes percebemos que aquela ideia não era tão genial assim e deve ser limada.

7) Krishna Monteiro

A leitura atenta de outros escritores

Toda literatura é um grande diálogo intertextual entre aquilo que escrevemos e o que foi escrito. Todo romance, todo conto, todo poema que se produz hoje e neste instante não existiria se não fossem os padrões estéticos e a visão de mundo estabelecidos por aqueles que o precederam: por Cervantes, Tchekov, Dante, Balzac, Tosltói. Pela Bíblia, pela Ilíada e Odisséia, pelo Alcorão, pelo Mahabharata. Ler atentamente essas obras é uma grande fonte de inspiração, pois seus autores, com frequência, sussurram ao nosso ouvido, sugerem ideias para imagens, enredos, dramas. Como se estivessem – e não estão? – vivos e ao nosso lado.

A leitura atenta da realidade

O mundo oculta infinitas possibilidades ficcionais. Basta lê-lo com o espírito e olhos abertos. Um quadro que vemos em um museu; um diálogo que ouvimos por acaso, no restaurante; um homem de idade sentado diante de nós na praça, com uma expressão melancólica; uma mulher que vemos de relance, que some de nossa vista e da qual lembramos por anos a fio; um cão que teima em nos seguir por horas e horas pela cidade, como se quisesse transmitir um recado. Todos esses “eventos do mundo real” são pontos de partida para possíveis histórias. A partir deles, criamos novos desenlaces para a nossa própria vida.

A leitura atenta de nossos textos por aqueles em quem confiamos

Devo muito a todas as pessoas que leram meus originais e iluminaram aspectos – e falhas – de minhas histórias. Que ajudaram a corrigir seu curso. Que as expandiram, enriqueceram com críticas e sugestões. Escrever é um trabalho solitário. Às vezes, passa-se quatro anos imerso em um texto para produzir um romance. Como ocorre em todo percurso, sempre é bom contar com amigos.

8 ) Luisa Geisler

Pra mim, a grande técnica é estabelecer prazo. Se não tenho uma data final e alguém pra quem entregar, não vou produzir nada, seja criativo ou não. Então forço um prazo, tento estruturar as ideias antes de começar (para não ter um branco no meio) e leio muito. Com essas três, acho que me aguento.

9 ) Luiz Biajoni

Não acredito em “técnica”, acho que o estímulo para produção de arte, de qualquer tipo, é consumir arte, ler, assistir, ouvir, conversar com pessoas, estar aberto a ideias. Talvez o principal seja a curiosidade: manter-se curioso sobre as coisas, em especial o tema sobre o qual deseja escrever.

10 ) Luiz Ruffato

Todos os dias acordo às seis da manhã, tomo café, leio as manchetes dos jornais na internet, e no máximo às sete estou a postos, pronto pra começar a trabalhar. Nunca me passou pela cabeça que precisasse de algo além da disciplina para escrever meus livros.

11 ) Luize Valente

Primeiro, ler muito e estar atento às histórias que amigos e conhecidos me contam e às que “capto” no ar. Se estou numa mesa de bar ou num transporte público as orelhas funcionam como antenas. Algo instigante que ouço, um caso, a descrição de uma pessoa, um lugar… podem me levar a criar uma história.

Também procuro, sempre que possível, percorrer locais onde imagino que a trama possa acontecer. As viagens – ver e sentir os espaços – são fundamentais para mim. Quando não posso ir fisicamente, viajo virtualmente, por fotos, mapas e sites.

E por último, apesar de escrever diretamente no computador, lápis e papel estão sempre comigo, são fundamentais, tanto durante o período de elaboração da trama, quanto durante a escrita. Anoto cenas, ideias e também fatos e números das leituras que faço, do que escuto. Estimulam minha mente a criar. Colo os bilhetinhos nas paredes do meu local de trabalho. Um grande painel que me guia e me ajuda a pensar sobre personagens, e a própria história que quero criar.

12 ) Marcelo Mirisola

Sentar a bunda na cadeira e escrever, a técnica e a criatividade nada mais são do que resultado do trabalho.

13 ) Marcelo Moutinho

Em geral, a principal estratégia é mesmo a observação. Andar pelas ruas atento às conversas, às situações, ao discurso que a cidade constrói cotidianamente, dia após dia. Gosto, também, de partir do diálogo com outras artes, sobretudo a música. Definido o mote, ou o protagonista, então vem a fase da criação ficcional. Imaginar um pequeno universo para aquele personagem, seu perfil psicológico, seu modo de ver o mundo. A trama quase sempre nasce daí. Sem esquecer, claro, que nossas experiências pessoais muitas vezes servem igualmente como matéria-prima. O trabalho posterior é de burilamento. Cortar excessos, frases que dizem demais e acabam por tirar o espaço do leitor. Porque, sim, acredito que um romance, um conto, uma crônica, um poema só se realizam inteiramente no encontro com o leitor.

14 ) Maria Clara Drummond

Escrevo de madrugada, embora anote diálogos curtos ao longo do dia, como no trabalho e ônibus. Procrastino muito. Enquanto o documento está aberto, costumo assistir análises de roteiro no Youtube. Nos últimos tempos, meu processo é basicamente tentativa e erro. Reescrevo obsessivamente tudo sem pressa ou ansiedade. Também tenho prestado atenção em outros tipos de artes. Colocar o foco em outras áreas me ajuda a estimular a criatividade e não apenas mimetizar.

15 ) Maurício de Almeida

Não sigo técnicas muito elaboradas para estimular a criatividade. No entanto, talvez por força do hábito, estou sempre observando coisas, sobretudo aquelas próximas, que estão sempre ao redor. O cotidiano está repleto de surpresas e incoerências e muitas vezes exigem soluções ímpares aos desafios inesperados que coloca. Ademais — e isso poderá soar um pouco invasivo –, observo as pessoas no metrô, no bar e outros lugares públicos, estou sempre atento às conversas e aos atos, pois não raro alguém solta uma pérola ou age de forma surpreendente, subvertendo o esperado. Por isso, ando sempre com um bloco de anotações. Por fim, outra estratégia para a criatividade é estar sempre imerso em campos que me estimulem. Estou sempre lendo, buscando autores e livros novos, assim como também sempre ouço música (às vezes, arrisco tocá-las). Esse contato contínuo ajuda a me manter desperto e atento ao inusual e, não raro, me instiga a mergulhar no inusual.

16 ) Micheliny Verunschk

No meu trabalho como romancista são dois os motores que acionam o trabalho criativo. O primeiro deles é a leitura de outros escritores. Nada me instiga mais no meu exercício de escrita que tomar contato com os modos de fabulação de uma outra pessoa. O segundo motor é a pesquisa, seja a pesquisa histórica ou digamos humana: fotografias, conversas pescadas na rua, no ônibus, análise de modos de conversar, de andar, de usar o corpo etc. Assim penso que para mim a criatividade passa por estar atenta ao outro, ao fora de mim, às ruas e depois por transformar esse material que chega em estado bruto em ficção.

17 ) Rafael Gallo

As três principais coisas que faço para estimular minha criatividade são:

1) Ler. Não existe músico que não seja um fã de música antes, não existe atleta que não seja um fã do esporte antes. O escritor é igual, é preciso ser apaixonado pela literatura para dar de volta essa paixão na hora de escrever. Além de ler como um hábito constante, antes de escrever sempre leio algo que gosto, algo que me coloque num “estado de literatura”, como ouvi o Julián Fuks dizer outro dia.

2) Sair pra rua. Há muitas coisas dentro de um livro, mas sempre há mais fora deles. De vez em quando é bom sair para a rua, fazer outras coisas da vida: comer e beber algo prazeroso, conversar com pessoas, ver os prédios e grafites e habitantes da cidade, assistir a um filme no cinema, parar para ouvir um músico de rua tocando, observar a(s) vida(s) em seu constante movimento.

3) Me recordar sempre, sempre, do menino sonhador que eu fui e quero continuar sendo.

18 ) Rafael Sperling

1) Ler bastante. Quanto mais eu leio, mais escrevo. Percebo claramente que as ideias vão embora se estou lendo pouco.

2) Escrever de madrugada e/ou com sono. Acho que algumas das melhores coisas que escrevi surgiram de um estado de certa sonolência. Parece que esse estado de embriaguez do sono eleva minha criatividade de alguma forma.

3) Prazos. Muita coisa que escrevi não teria aparecido se não fosse por algum tipo de prazo para ser entregue. Ou caso não haja alguém esperando pelo texto, estabelecer algum tipo de prazo pessoal certamente pode ajudar.

19 ) Raimundo Carrero

Iniciei minha carreira literária participando do Movimento Armorial, liderado por Ariano Suassuna, e por isso recorri ao Folheto de Cordel, que tem uma estrutura interna de Epopeia, com fatos heroicos, personagens fortes e linguagem visual. Mais adiante incorporei o discurso indireto livre, que possibilita maior fluidez na fala.

20 ) Santiago Nazarian

Sinceramente, eu diria: ler, beber, viver – parece nome de romance bagaceiro, mas funciona. Ler é sempre a melhor oficina, a melhor forma de aprender técnicas e possibilidades. Beber ajuda a soltar as ideias, quando estão emperradas. E por último, a experiência de vida talvez seja o mais importante de tudo, o que faz com que sua literatura tenha de fato uma base sua.

21 ) Stella Maris Rezende

Meus três principais modos: ler e reler muito, ouvir atentamente o que as pessoas dizem, observar os pequenos detalhes, as coisas aparentemente sem importância, mas que têm muito a nos dizer.
Abaixo, os autores que participaram (por ordem alfabética).

1 ) Ana Paula Maia – Autora de Assim na terra como embaixo da terra (2017), De gados e homens (2013), Carvão animal (2011), e outros.

2 ) André de Leones – Autor de Abaixo do paraíso (2016), Terra de casas vazias (2013), Dentes negros (2011), e outros.

3 ) Carol Rodrigues – Autora de Sem vista para o mar (2014) e Ilhós (2017).

4 ) Eduardo Spohr – Autor de A batalha do Apocalipse (2010), da série Filhos do Éden (iniciada em 2011), e outros.

5 ) Edyr Augusto – Autor de Pssica (2015), Selva concreta (2014), Um sol para cada um (2008), e outros.

6 ) Henrique Rodrigues – Autor de O próximo da fila (2015), O tesouro na sombra da árvore (2013), e outros.

7 ) Krishna Monteiro – Autor de O mal de Lázaro (2018) e O que não existe mais (2015).

8 ) Luisa Geisler – Autora de Contos de mentira (2010), Quiçá (2011) e Luzes de emergência se acenderão automaticamente (2014).

9 ) Luiz Biajoni – Autor de A viagem de James Amaro (2015), A comédia mundana: três novelas policiais sacanas (2013), Elvis e Madonna: uma novela lilás (2010), e outros.

10 ) Luiz Ruffato – Autor de Eles eram muitos cavalos (2001 e 2017), Flores artificiais (2014) Estive em Lisboa e lembrei de ti (2010), e outros.

11 ) Luize Valente – Autora de Sonata em Auschwitz (2017), Uma praça em Antuérpia (2015) e O segredo do oratório (2012).

12 ) Marcelo Mirisola – Autor de Como se me esfumaçasse (2017), A vida não tem cura (2016), Paisagem sem reboco (2015), e outros.

13 ) Marcelo Moutinho – Autor de Ferrugem (2017), Na dobra do dia (2015), A palavra ausente (2001), e outros.

14 ) Maria Clara Drummond – Autora de A realidade devia ser proibida (2015) e A festa é minha e eu choro se eu quiser (2013).

15 ) Maurício de Almeida – Autor de A instrução da noite (2016) e Beijando dentes (2008).

16 ) Micheliny Verunschk – Autora de O peso do coração de um homem (2017), Aqui, no coração do inferno (2016) e nossa Teresa – vida e morte de uma santa suicida (2014).

17 ) Rafael Gallo – Autor de Rebentar (2015) e Reveillon e outros dias (2012).

18 ) Rafael Sperling – Autor de Um homem burro morreu (2014) e Festa na usina nuclear (2011)

19 ) Raimundo Carrero – Autor de O senhor agora vai mudar de corpo (2015), Tangolomango (2013), Minha alma é irmã de Deus (2010), e outros.

20 ) Santiago Nazarian – Autor de Neve Negra (2017), Biofobia (2014) e Mastigando Humanos (2006 e 2013).

21 ) Stella Maris Rezende – Autora de As gêmeas da família (2013), A mocinha do mercado central (2011), A guardiã dos segredos de família (2011), e outros.

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